31 August 2005

Inícios de ano

Existe uma "série de anos" que começam em Setembro. Os que me tocam prendem-se com o escolar e o escotista.
Há algum tempo que a magia do início de ano escolar se esfumou. Possivelmente com a idade... Ou com o deixar de ter cadernos e livros e estojo e borracha novos, a cheirar a plástico, como eu tanto gosto :) ... Também poderá ter a ver com o facto de agora, ao longo de todo o ano, sentir este odor (aquele ar carregado de expectativas, sonho e vontade de aprender!) que faz parte do imaginário de qualquer criança, na papelaria da minha mãe... Ou ainda por passar praticamente todo o Verão a seleccionar, contabilizar, encomendar, recolher, carregar, separar, ensacar, vender e pagar livros. E todos novos....!

Mas o início de ano escotista continua a ser tão brilhante como dantes!
Com uma forma diferente, é certo, mas ainda com um brilho especial...! Quando era escoteira, a curiosidade acerca das aventuras que me aguardavam assaltava-me repetidamente e faziam a minha cabeça viajar a mil...! Iria descer um rio??? Hummm... Ou dormir num abrigo "buéda técnico"?... Viver uma actividade desafiante com outros escoteiros, que não conhecia? Ou mesmo subir uma serra verdejante, que só tinha visto a 2 dimensões, em mapas ou revistas de fotos parasidíacas?...
Este desconhecimento do futuro fazia as minhas delicias! A ideia d` "o limite é a tua imaginação", a sensação de escolha ilimitada (tanto tomada com a Minha Patrulha, como conforme as minhas mais pessoais aspirações) atraía-me de forma inigualável. O Livre Arbítrio é uma coisa deliciosa! É indescritível a sensação da resolução de algo depender apenas da nossa vontade… O virar à esquerda ou à direita na bifurcação estar simplesmente nas nossas mãos (ou pés, como no caso desta metáfora ;) ).
Agora a magia é diferente. Reside no olhar para o calendário da minha agenda (em papel, claro! Que isso das novas tecnologias vai ter de aguardar um bocado...) e ver uma pilha de fins-de-semana vazios, à espera de serem preenchidos por actividades (mais ou menos radicais), encontros, conselhos de guias, caçadas, reuniões de tribo, conselhos de clã, noites ao relento, raids maiores do que alguém se lembraria de fazer, jogos nocturnos e diurnos, banhos em cascatas e serões à fogueira (sem kumbaya, óbvio!)... E tantas outras vivências, que apenas a vontade "deles" define.

Começar o ano escotista dá uma pica desgraçada! Eu tenho que me recordar constantemente que, este ano mais do que qualquer outro até agora, não me posso comprometer com tudo e mais alguma coisa. Tenho de me agarrar à cadeira quando o Rui pergunta “E com o bivaque de Fevereiro, quem é que fica?”… E custa tanto… Porque todas as forças estão renovadas, porque a saudade após as férias não pára de bater à porta. Porque a vontade é imensa e porque sinto que me apetece ficar responsável por cada actividade, já que cada uma tem algo que me impele! Agora parece que o tempo chega para tudo e que tudo nos alicia. A ideia de ver os olhos dos putos (como carinhosamente todos gostamos de lhes chamar!) a brilhar durante aquele Fogo de Conselho que foi pensado de uma ponta à outra, animação por animação… Ou o sorriso estampado no rosto quando, ao dobrar a curva do trilho, encontram uma fonte de pedra com um fio de água fresco, aquele que eles precisavam para repor força e dar alento até ao fim, aquela que nós sabíamos que ali estava, porque a carta nos dizia…

E é por tudo isto que estou em pulgas, carregada de ansiedade e desejosa de ouvir alguém gritar
1…2…2… 122!



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