30 April 2007

Há exactamente um ano o meu mundo desabou.


Fez um barulho tão ensurdecedor que demorei a perceber o que se tinha passado. Fiquei estatelada no chão, envolta em poeira, destroços, pedaços de tudo o que me rodeava, pedaços da minha vida, pedaços de mim.




Demorei a limpar o meu quarto. Demorei a levantar-me, a pegar em todos os pedaços que se aproveitavam, demorei a varrer todo o pó que me toldava a vista e impedia de respirar. Não conseguia decidir se limpava todo o quarto, toda a marca, se eliminava todo o grão de pó que, invariavelmente, me trazia de volta à realidade ou se começava a trabalhar sobre o que ainda sobrava. Levou tempo a escolher o que queria aproveitar das imagens rasgadas, o que valia a pena e o que não queria de todo guardar. Custou vasculhar, avaliar, pesar. Foi complicado ver as minhas próprias entranhas no chão. Custou encontrar partes inteiras de mim.




Mas encontrei.


Depois de limpar o lixo, depois de encontrar solo firme, recomecei a construir. A confiança, o amor-próprio, a auto-estima, o ego. E então foi possível recomeçar os laços, procurar os fios que tinham resistido e voltar a tecer as amarras. Quando recuperadas, foi possível reatá-las, fazer novos nós, procurar novos pontos de união, relembrar os antigos e reforçá-los.




Este processo só foi possível porque tudo foi posto em causa, tudo foi questionado e muito mudou. Porque reequacionámos tudo e porque tivemos de nos procurar, de nos conhecer, de nos sentir, de nos agredir, só para perceber se ainda doía, se havia mais sangue para derramar, se era só um pesadelo, de mostrar as entranhas de cada um esquartejadas, arranhadas, desfeitas.





Sei que dispensava todo este processo. Que trocaria aquele dia a todo o custo, que pagaria milhões para que nada tivesse acontecido.


Mas aconteceu. E, agora, consigo ver o resultado.




Estou diferente, mais madura, mais forte emocionalmente, mais acordada. Gosto de mim assim! Gosto do que resultou, orgulho-me daquilo em que me tornei.




Mas o meu maior orgulho não reside em mim. Reside em quem mais se modificou, quem mais cresceu, quem está mais maduro, forte, de olho aberto e sorriso atento! Em quem repensou toda a sua forma de ser - não por mim, mas porque percebeu que daquela forma nada fazia sentido.




Somos mais fortes. Mais resistentes, mais duros, mais verdadeiros e mais abertos. Mais acordados. Mais envolvidos. Mais eu, mais tu. Mais nós, sem deixarmos de ser tu e eu.




Porque sei que as nuvens estão a dissipar-se, que a parca neblina que paira no ar é tranquila, daquela que apenas existe cedinho na manhã, a anunciar um solarengo dia de Primavera.


Sinto que posso seguir descontraídamente o caminho, que me vai levar onde eu quiser. Que sinto as pedras debaixo dos pés, mas que estas apenas me mantêm acordada para a realidade e que nada há a temer, porque conheço, já conheço os sinais e estes fazem-me sorrir.

Não sei para onde vamos, mas sei que estou a aproveitar cada momento do caminho!





Benasque´06 - foto própria

4 no cravo ou na ferradura:

joana said...

também gosto daquilo que és!! e muito!!

adoro-te linda!!

Mári len said...

o que não mata fortalece ( isto não é uma boquinha à magrela!)! e cm diz um t.shirt que tenho prai "the only people who never failed are those who never tried",
um bocado cliche,não!ES LINDA,NÃO MUDES NUNCA! (quer dizer quando passares muitas horas s durmir e a trab,podes ser um bocadinho mais simpática :)
bom dia!

Biscoita said...

joaninha:
Obrigada pela força, pelo apoio, pela confiança e, acima de tudo, pelo amor. Gosto de ti, também!

mári:
Companheira de longas noites de obras, prometo fazer o meu melhor por recalcar o mau feitio que aflora, sabe-se lá de onde, nessas horas! E claro que o que não mata nos torna mais fortes, ó pra mim aqui tão forte, ó!! :p

E pronto, ainda bem que tenho amigas que dizem que eu sou linda! Mas e gajos com a mesma opinião, há?? De preferência assim GIROS, também! ;)

Pedrinho Do Call-Back said...

Não sou giro, mas sou gajo... Serve?

Parabens por te teres reconstruído. A nossa verdadeira força, revela-se nestas alturas, as dificeis.

Escreves muito bem.

Parabéns.