25 April 2010





Sempre quis viver a mil. Nunca soube esperar, acho que nunca tive a paciência para esperar. Se podia ir agora a correr, nem que para ter pouco tempo, valia sempre a pena.
Sempre senti que não valia a pena esperar por outra oportunidade. Porque nunca sabia se ia haver outra oportunidade, ou pelo menos uma tão doce. E porque o que tinha à frente sempre me pareceu aliciante, melhor. E quando não o era, não o punha de parte em espera de outra coisa. Punha-o de parte porque não me motivava. "Não dava pica", como dizíamos quando eramos putos.
O engraçado é que sinto que continuo a viver assim. Pelo que dá pica. Não só pelo gozo, a idade já me trouxe um bocadinho mais de saber - ou pelo menos assim quero acreditar-, mas continuo a viver pelo desafio. Aquela mania de não ir atrás do outro mantém-se, desde sempre. Sempre me lembro de me "puxarem" para o caminho atrás do adulto, para me sentar direita, para parar de desmontar o que tinha nas mãos, para colorir dentro dos traços. E desde que me conheço me lembro de fazer ao contrário.
Apelidavam-me de teimosa. Ainda apelidam. Talvez seja teimosia, mas eu tenho a imagem romântica de que é curiosidade de saber como é ser diferente dos outros. Não saber porque é que todos vão por ali, mas antes descobrir o que há no caminho por onde ninguém vai.
E depois olha... Não aprendi a esperar...
Sinto sempre que as experiências devem ser vividas ao máximo... E por isso entrego-me. E tanto origina felicidade, alegria extrema, como umas belas marradas contra a parede.
Não faz mal.
A cabeça é dura (já me dizia a minha mãe).

18/04/09

1 no cravo ou na ferradura:

AF said...

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

José Régio



:)